ELE faz 79 anos hoje

Por Odir Cunha, do Centro de Memória
Em 21 anos de carreira o tricordiano Edson Arantes do Nascimento foi cinco vezes campeão do mundo – duas pelo Santos, três pela Seleção Brasileira –, seis vezes campeão brasileiro, dez vezes campeão paulista, duas vezes da Copa Libertadores, quatro vezes do Torneio Rio-São Paulo, vencedor da Recopa Sul-americana e Mundial, ganhador de inúmeros torneios internacionais de destaque, marcou 1282 gols, foi artilheiro de mais de duas dezenas de competições e, por aclamação, ao seu apelido-marca “Pelé” foi incorporado o epíteto “Rei do Futebol”. Um saudoso comentarista esportivo, Mario Moraes, costumava sintetizar esse atleta superior e imprevisível com apenas três letras: ELE.
Nascido na cidade mineira de Três Corações em 23 de outubro de 1940, uma quarta-feira como hoje, filho primogênito de Celeste e do craque de triste sorte João Ramos do Nascimento, o Dondinho, ELE descobriu o futebol logo cedo. Aos seis anos já o chamavam de gênio, aos 13 era o destaque do Baquinho, de Bauru, e aos 15 foi trazido pelo ex-jogador Waldemar de Brito para o Santos, então o campeão paulista de 1955.
Aos 17 anos foi o mais jovem artilheiro do Campeonato Paulista, e com a mesma idade, convocado pelo técnico Vicente Feola, participou da Copa de 1958, na Suécia, entrando nos quatro jogos finais e marcando seis gols, um deles – o que dá o chapéu no zagueiro sueco e bate antes de a bola cair – considerado um dos mais bonitos de todas as Copas.
Estabeleceu o recorde – ainda não superado – de 58 gols no Campeonato Paulista de 1958. A partir daí não passou uma temporada em que não conquistasse títulos e batesse recordes de artilharia. Onze vezes artilheiro do Campeonato Paulista, repetiu a façanha por nove anos consecutivos, de 1957 a 1965.
Com ELE o Santos da década de 1960 foi escolhido o melhor time de todos os tempos em uma pesquisa mundial da revista argentina El Gráfico que consultou especialistas da América do Sul e da Europa. O ataque santista da época – o verso decassílado Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe –, virou o mantra dos áureos tempos do futebol arte. Tempos incríveis em que o Alvinegro Praiano podia conquistar nove títulos oficiais consecutivos, como fez de 1961 a 1963.
Então, o planeta quis testemunhar a magia do Santos de Pelé, e os homens de branco partiram para mostrar sua arte em todos os continentes, dos estádios reluzentes da Europa aos campos de terra batida da África. O Barcelona foi batido no Camp Nou por 5 a 1, o Benfica, campeão europeu, foi goleado na final do Torneio de Paris de 1961 por 6 a 3. No início de 1969 a Guerra de Biafra foi interrompida na Nigéria, assim como um conflito se aquietou no Congo para que o povo pudesse ver o time do Rei do Futebol jogar.
Nas Copas do Mundo, a história d’ELE é a jornada do herói perfeita. Depois de explodir na Suécia, se machucou no Chile e na Inglaterra e em 1970 embarcou desacreditado para o México. Estava acima do peso, perto dos 30 anos, e muitos achavam que nem deveria viajar. Como se sabe, porém, fez uma Copa exemplar, com quatro gols, seis assistências, jogadas deslumbrantes, e acabou escolhido pela Fifa como o melhor jogador daquela competição que deu ao Brasil a posse definitiva da Taça Jules Rimet.
Capaz de chutar forte ou colocado com os dois pés, dono de uma técnica perfeita para a cabeçada, a matada no peito, o drible, o arranque e o chute, Pelé também era o melhor atleta do futebol, com uma velocidade de 11 segundos em 100 metros e uma impulsão que o levava a cabecear da altura de 2,74 metros. Sua estrutura muscular e óssea era invejável, a ponto de nunca sofrer uma fratura.
Mais do que a técnica e o físico, ELE era o mais inteligente no campo, antevia e criava jogadas como nenhum outro fizera antes. E, talvez na sua qualidade mais importante, tinha o caráter determinado dos maiores competidores. Quando decidido a ganhar um jogo, principalmente uma final, em quase cem por cento das vezes saía de campo com a taça.
Por falar em taça, das centenas de troféus que recebeu, os dois prêmios individuais mais destacados são o de “Atleta do Século”, concedido pela revista francesa L’Équipe em 1981 e o de “Melhor Jogador do Século da FIFA”, entregue em 2001. Mais importante do que eles, só mesmo o reconhecimento e o amor dos brasileiros e, particularmente, dos santistas.

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