Clássico dos Clássicos define a vice-liderança

Por Odir Cunha, do Centro de Memória
Estatísticas por Guilherme Guarche
Santos e Palmeiras fazem, nesta quarta-feira, às 21h30, na Vila Belmiro, um confronto que valerá pela segunda colocação no campeonato e a esperança de continuar lutando pelo título Brasileiro. Dois dos maiores exemplos do estilo bonito que prevaleceu no Brasil nos tempos em que este era o “país do futebol”, o Alvinegro e o Alviverde já fizeram muitos confrontos elegantes, belíssimos e decisivos – mesmo quando jogados muito antes da decisão.
Um exemplo desses jogos que podem definir um título, mas são realizados bem antes da final, ocorreu em 30 de julho de 1961, na quarta rodada do Campeonato Paulista daquele ano. Campeão paulista do ano anterior, o Santos vinha tateando, com uma vitória magra sobre o Comercial de Ribeirão Preto e dois empates sem gols com Portuguesa Santista e Taubaté.
O Palmeiras, por sua vez, tinha goleado nos dois jogos que fizera: 6 a 0 na Portuguesa Santista e 4 a 1 no Comercial. Uma vitória na Vila e o time da capital já começaria a abrir vantagem na liderança. Pressentindo a importância da partida, 25 mil pessoas tomaram o Urbano Caldeira naquele domingo.
Nosso Santos tinha um timaço, escalado pelo técnico Lula com Laércio, Getúlio, Mauro e Dalmo; Formiga e Zito; Dorval, Mengálvio (depois Lima), Coutinho, Pelé e Pepe.
Mas o Palmeiras, treinado por Armando Renganeschi, não ficava atrás, com Valdir, Djalma Santos, Valdemar Carabina e Geraldo Scotto; Aldemar e Zequinha; Zeola, Américo, Vavá, Chinezinho e Paulinho (depois Goiano). Romualdo Arpi Filho era o árbitro.
Dada a saída, o Alvinegro tomou a iniciativa e Dorval abriu o marcador aos dois minutos. Mesmo com chances de lado a lado, o primeiro tempo terminou assim. No segundo, Zeola empatou aos 16 minutos e a partida caminhava para o empate quando Lula olhou para o banco de reservas e chamou o garoto Lima, 19 anos, recentemente contratado do Juventus:
– Não quero que você volte para marcar. Fique lá na frente e, quando tiver oportunidade, chute a gol – disse Lula.
Daqueles jogadores aplicados, que após o treino permanecia treinando chutes, Lima já tinha marcado gols importantes para o Juventus. Naquela partida fechada, sem muito espaço para penetrar, Lula queria contar com um jogador que podia chutar de fora da área, coisa que Mengálvio não costumava fazer.
A vitória sobre o rival direto na luta pelo título era essencial, mas o gol não saía. Até que aos 42 minutos surgiu uma boa oportunidade. Lima nos contou essa história nesta segunda-feira, almoçando no refeitório do clube:
– O Dorval veio sassaricando pela ponta e deu para o Pelé, que driblou um, tentou achar um espaço para penetrar, mas acabou recuando para mim. Do jeito que a bola veio eu bati. Sabe quando você sente que pegou de jeito? Eles tinham o Valdir de Moraes, um grande goleiro, mas não deu pra ele.
Aquela vitória, por 2 a 1, animou o Santos, que depois dela conseguiu mais dez triunfos seguidos, mantendo-se na liderança apesar da perseguição do Palmeiras. Ao final do campeonato, numa época em que as vitórias valiam dois pontos, o Alvinegro Praiano alcançou o título com 53 pontos ganhos, apenas três a mais do que o rival. Enfim, sem a coragem de Lula, o gol do garoto Lima e a vitória, na Vila, sobre o maior rival daqueles tempos, a taça provavelmente iria para outro Memorial das Conquistas.
Na Vila e no Brasileiro, vantagem alvinegra
O “Clássico dos Clássicos” já foi realizado 18 vezes na Vila Belmiro valendo pelo Campeonato Brasileiro, com 10 vitórias do Santos, quatro derrotas e quatro empates; 29 gols pró e 21 contra. Isso quer dizer que, apenas pela probabilidade histórica, o Santos tem 55,5% de chance de vencer nesta quarta-feira e 22% de empatar.
Se forem computados todos os 72 jogos pelo Brasileiro realizados até hoje entre ambos, a vantagem ainda é santista, com 27 vitórias, 20 derrotas e 25 empates; 98 gols a favor e 90 contra.
No total, desde os tempos do amadorismo, em que o adversário ainda se chamava Palestra Itália, o clássico foi jogado 326 vezes, com 104 vitórias alvinegras, 137 derrotas e 85 empates; 469 gols marcados e 557 sofridos.
Maiores artilheiros santistas do confronto pelo Brasileiro
1 – Pelé, cinco gols.
2 – Toninho Guerreiro, Serginho Chulapa e Neymar, quatro gols.
5 – Pepe e Gabriel Barbosa, três gols.
Na primeira partida, goleada santista
Fundado havia pouco mais de um ano, o Palestra Itália desafiou o Santos para um amistoso no campo do Velódromo, em 3 de outubro de 1915. Válido pelo Festival Pró-Pátria, o evento beneficente em prol da Cruz Vermelha Italiana atraiu grande público naquele domingo.
Dentre os espectadores havia cerca de 250 rapazes e moças que subiram a serra para incentivar o Alvinegro. As moças entoaram canções em homenagem ao time.
Com jogadores mais tarimbados, o Santos formou com CiroWerneck, Américo e Urbano Caldeira; Pereira; Oscar e Ricardo; Aranha, Ary Patusca, Anacleto Ferramenta, Marba e Arnaldo Silveira.
O Palestra Itália, apenas com italianos natos ou descendentes, jogou com Stillitano, Felice e Fulvio; Police, Fragassi e Imparato; Pastore, Américo Fiaschi, Amílcar, Ferré e Ítalo. A arbitragem foi de Irineu Malta.
Logo de início, porém, se percebeu que as forças eram desiguais. Com jogadores mais técnicos e experientes, o Alvinegro Praiano tratou logo de liderar o marcador. E vieram os gols… 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7…
Isso mesmo. 7 a 0 foi o resultado do primeiro clássico entre Santos e Palmeiras, com três gols do centroavante Ary Patusca, dois de Anacleto Ferramenta, um de Arnaldo Silveira e um de Aranha.

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