Sexto título brasileiro em oito anos!

Por Odir Cunha, do Centro de Memória
Após uma equilibrada disputa entre os 17 melhores times brasileiros, Santos, Vasco, Palmeiras e Internacional jogaram a fase final do Torneio Roberto Gomes Pedrosa/ Taça de Prata de 1968, que no dia 10 de dezembro definiria o campeão nacional.
Dos quatro classificados, o Palmeiras teve a melhor campanha, pois terminou em primeiro no Grupo A, com 24 pontos ganhos, nove vitórias e saldo de 15 gols, seguido pelo Internacional, com 20 pontos, sete vitórias e cinco gols de saldo.
O Santos liderou o Grupo B, com 22 pontos, nove vitórias e saldo de 19 gols. O Vasco foi o segundo, com 20 pontos, nove vitórias e saldo de cinco gols. Uma novidade é que o quadrangular final teria apenas um turno.
Dos quatro classificados, a melhor campanha era a do Palmeiras, seguida pela do Santos. Como cada equipe faria três jogos, era de se esperar que os dois clubes paulistas jogassem dois jogos em casa, mas na hora de confeccionar a tabela a justiça não prevaleceu e o o Alvinegro Praiano foi o mais prejudicado.
A Confederação Brasileira de Desportos estabeleceu que Internacional e Vasco, os segundos lugares de seus grupos, jogariam dois jogos em casa, assim como o Palmeiras. Quanto ao Santos, sairia para enfrentar Internacional e Vasco e só jogaria em São Paulo contra o Palmeiras, e mesmo assim no estádio do Morumbi.
É importante relembrar que naquele final de 1968 ainda se vivia a era de ouro do nosso futebol, em que todos os titulares e reservas da Seleção Brasileira, a mais poderosa do planeta, jogavam no País. É oportuno também destacar que o Santos era a base da Seleção Brasileira que iniciaria os preparativos para as Eliminatórias da Copa do México.
Pentacampeão brasileiro legítimo de 1961 a 1965, o Alvinegro Praiano ainda fora vice-campeão em 1959 e 1966. Ou seja, de nove disputas de título nacional tinha vencido cinco e terminado duas em segundo lugar. Era, sem dúvida, o adversário a ser batido.
E bem que o Internacional tentou. Na noite de 4 de dezembro, no Estádio Olímpico, insuflado por mais de 30 mil pessoas, o colorado reagiu ao gol de Pelé e chegou ao empate ainda no primeiro tempo, com Elton. Mas na segunda etapa o Santos pressionou bastante e alcançou o gol da vitória aos 43 minutos, em pênalti cobrado por Carlos Alberto.
Quatro dias depois, domingo, Santos e Palmeiras, os dois vencedores da primeira rodada, fizeram um jogo importantíssimo no Morumbi. Melhor desde o início, o Santos terminou o primeiro tempo vencendo por 1 a 0, gol de Abel quase sem ângulo, e fez mais dois na segunda etapa, com Edu e Toninho. Os 3 a 0 deixaram o Alvinegro em uma ótima condição de garantir o seu sexto título brasileiro contra o Vasco, no Maracanã, mesmo estádio onde já tinha comemorado os títulos nacionais de 1962, 1964 e 1965.
Com quatro pontos ganhos e quatro gols de saldo, o Santos só deixaria de ser campeão se perdesse para o Vasco por uma diferença de três gols. No campo não havia o que temer, mas os bastidores sempre foram perigosos para o Alvinegro Praiano. Antes da partida, a direção santista ficou ressabiada com a notícia de que o experiente árbitro argentino Roberto Goicochea seria substituído, “por motivo de doença”, pelo jovem carioca Arnaldo César Coelho, de 25 anos.
Indiferente às movimentações extra campo, o técnico Antoninho escalou o time com Cláudio, Carlos Alberto, Ramos Delgado, Marçal e Rildo; Clodoaldo e Lima; Edu, Toninho (depois Douglas), Pelé e Abel. O Vasco, dirigido por Paulinho de Almeida, jogou com Valdir, Ferreira, Brito, Moacir (Fernando) e Eberval; Benetti e Alcir; Nado, Valfrido, Bianchini e Danilo Menezes (Adilson).
O primeiro tempo transcorreu sem anormalidades e o Santos, alheio aos 55 mil torcedores contrários, marcou dois a zero, gols de Toninho aos 15 e Pelé aos 38 minutos. Na segunda etapa Bianchini diminuiu aos 4 minutos e o jogo ficou mais tenso. Aos 15 minutos, o mesmo Bianchini tentou acertar o goleiro Cláudio, este foi tirar satisfações com o atacante vascaíno e ambos acabaram expulsos. O goleiro santista, que tinha o sonho de ganhar o Troféu Belfort Duarte – entregue ao jogador que não era expulso por um período de 10 anos – saiu de campo inconformado, apesar do título.
Outro motivo de revolta de Cláudio é que, mesmo reconhecido como um dos melhores goleiros do País, não tinha sido convocado para a Seleção Brasileira que iniciaria os treinos para a Copa de 1970. No dia seguinte à conquista do Santos, um artigo do jornalista Pedro Luís da Folha de São Paulo, tocava nesse assunto:
O time da Vila pode e deve ser base de qualquer selecionado que se preze e queira jogar. Carlos Alberto, Marçal, Joel, Rildo, Clodoaldo, Lima, Pelé, Toninho e Edu balançam qualquer roseira (…). O Santos não pode ser base porque causa inveja (…). Vasco, Flamengo e Fluminense não oferecem mercadoria à altura, mas vivem no coração do Passo (Antônio do Passo, dirigente da CBD) e do Havelange (João Havelange, presidente da CBD).
Será que o termo “inveja”, empregado pelo jornalista da Folha, seria exagerado? Bem, o certo é que o Alvinegro Praiano voltou do Rio com o seu sexto troféu de campeão brasileiro e no Aeroporto de Congonhas não havia um único representante da Federação Paulista de Futebol para recepcionar a delegação santista.

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