Santos, o primeiro a marcar 100 gols na América do Sul

Por Gabriel Santana, do Centro de Memória
O futebol já era jogado há cerca de três décadas na América do Sul e, segundo o jornalista e historiador Adriano Neiva, o De Vaney, nenhuma equipe do continente tinha feito 100 gols em uma competição oficial. Até que no Campeonato Paulista de 1927 surgiu em Santos um ataque irresistível, que no último jogo do campeonato, em 4 de março de 1928, na Vila Belmiro, alcançou a ambicionada marca centenária.
A maior parte dos 100 gols foi feita pela linha formada por Omar, Camarão, Feitiço, Araken e Evangelista. Mas naquele dia, em que Santos e Palestra Itália jogaram pelo título, o artilheiro Feitiço, suspenso, deu lugar a Siriri, irmão de Camarão.
E foi justamente Camarão, em uma escapada a 18 minutos para o final da partida, que anotou o histórico gol 100 do Alvinegro Praiano no Paulista de 1927, o segundo gol santista na partida. Com uma vitória, o Santos se tornaria o primeiro time fora da capital do Estado a ser campeão paulista, mas acabou perdendo por 3 a 2 e o título foi para o Palestra Itália, atual Palmeiras.
Um público de quase 15 mil pessoas – muito numeroso para a época – compareceu para assistir à decisão e, em sua maioria, torcer para o Santos. O esquadrão Alvinegro foi a campo com Athié, Bilú e Meira; Hugo, Júlio e Alfredo; Omar, Camarão, Siriri, Araken e Evangelista. O Palestra Itália jogou com Perth, Bianco e Miguel; Xingó, Gogliardo e Serafim; Tedesco, Heitor, Armando, Lara e Perillo.
O clima era de festa. Na Vila Belmiro o Santos tinha vencido todos os jogos do Campeonato Paulista. Naquele domingo, começou melhor e abriu o marcador com um chute forte de Siriri. Mas então o árbitro Anthero Mollinaro – “sorteado” para o jogo mesmo sendo sócio e ligado ao Palestra Itália – passou a prejudicar o Santos e enfurecer a multidão.
O jornal Folha da Manhã, da capital, analisou assim a atuação do árbitro: “O juiz, senhor Anthero Mollinaro, do Palestra Itália, prejudicou grandemente o clube local. Não puniu, além de outras faltas, uma defesa feita com a mão por Bianco na área penal e anulou um ponto legitimamente feito pelos elementos do Santos.”
Para admoestar Siriri, Mollinaro chegou a interromper a partida quando faltavam 25 minutos para o final do tempo regulamentar e o Palestra vencia por 3 a 1. Sete minutos depois de reiniciado o jogo, Camarão diminuiu para 3 a 2. Ainda faltavam 18 minutos para buscar ao menos o empate, mas o árbitro esperou só mais alguns instantes e encerrou a partida.
Indignada, a torcida invadiu o gramado, causando um tumulto enorme. A cavalaria foi acionada e entrou em campo para retirar pessoas. Inconformados, os torcedores esperaram a saída do árbitro do estádio e o acompanharam até a estação de trem.
O caminho dos 100 gols
Em 3 de maio de 1927, diante do Ypiranga, na Vila Belmiro, o Santos marcou os seus primeiros 12 gols no campeonato. Colecionou novas goleadas ao longo da competição, como, por exemplo: 12 a 1 no Ypiranga, 10 a 2 no República, 11 a 2 no Barra Funda, 11 a 3 no Americano, 9 a 3 no São Paulo Alpargatas, 10 a 1 no Guarani e 8 a 3 no Corinthians.
O meia Araken Patusca foi responsável por 36 gols, Feitiço marcou outros 28, Camarão mais 13, Evangelista e Omar marcaram sete cada um, Siriri outros cinco e Hugo marcou dois gols. Ainda ocorreram dois gols “contra” a favor do Peixe, marcados por Marino e Caio.
O Santos do Paulista de 1927 encantou o Brasil com suas atuações e exorbitantes goleadas, e foi considerado o melhor time do País naquele ano.  Não por acaso foi convidado para inaugurar o então maior estádio da América do Sul, o de São Januário, e goleou a equipe anfitriã, o Vasco da Gama, por 5 a 3.
No Paulista foram exatamente 100 gols em apenas 16 jogos, média de 6,25 gols por jogo. Um recorde sul-americano! E mais uma prova de que o DNA ofensivo do Santos esteve sempre presente, em qualquer época de sua história.

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