Ramos de oliveira para o grande zagueiro

Guilherme Guarche, do Centro de Memória
O sobrenome Ramos de Oliveira, do grande capitão Mauro, lembra os adereços que eram postos nas testas dos grandes campeões olímpicos na Grécia Antiga, representando a suprema glória para a alma grega.
Os pequenos ramos de oliveira, considerada a árvore protetora de Atenas, se tivessem sido colocados na fronte do maior beque-central do futebol brasileiro, quando ele levantou a taça Jules Rimet no Mundial no Chile, em 1962, seria uma homenagem merecida.
Nascido 90 atrás, na tranquila estância hidromineral de Poços de Caldas, Minas Gerais, em um sábado, dia 30 de agosto no conturbado ano de 1930, ano que representou o fim da política oligárquica entre mineiros e paulistas.
O elegante Mauro Ramos de Oliveira angariou 17 títulos oficiais entre os anos de 1960 a 1967, uma média de quase três conquistas por ano.
Além da elegância, era um zagueiro de técnica perfeita, que construiu uma carreira repleta de importantes conquistas.
O craque de 1,80m e 76 quilos bem distribuídos em um corpo atlético, tinha uma classe ímpar ao se vestir e era bastante educado no trato com as pessoas, o que lhe valeu o apelido de “Martha Rocha” a baiana eleita miss Brasil em 1954.
O apelido, que carregou por toda a carreira, em nada diminuiu sua virilidade, pois quando era preciso sabia impor sua presença sem se intimidar, como demonstrou ao enfrentar os jogadores do Milan, na final do Mundial Interclubes de 1963, vencido pelo Santos.
Foi o capitão e líder da defesa santista, formando uma dupla memorável com Calvet, na fase áurea do grande time santista nos anos 60.
Desarmava sem cometer faltas e saía jogando de cabeça erguida, com um domínio invejável da bola. Era o pilar da defesa que marcou época no futebol brasileiro.
No ano de 1962 ganhou os títulos de campeão mundial – um pela Seleção Brasileira, o outro pelo Santos. Foi também nesse ano campeão paulista, brasileiro e sul-americano.
Mauro jogava em uma defesa que, apesar de pouco divulgada, foi também muito importante no time. Todos conhecem de cor o ataque daquele Santos, com Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, mas a retaguarda, formada por Gylmar, Lima, Mauro, Calvet, Zito e Dalmo também deve ter seus méritos reconhecidos e enaltecidos.
O início, em Poços de Caldas
Mauro iniciou a carreira jogando em equipes de sua cidade natal, como o Caxias, antes de sua passagem pela Esportiva Sanjoanense, de São João da Boa Vista, e pela Associação Atlética Caldense.
Em 1948 foi contratado pelo São Paulo, e no time tricolor se firmou como o melhor zagueiro-central da equipe pela qual ganhou quatro vezes o Campeonato Paulista (1948,1949, 1953 e 1957). Viajou, como reserva, para as Copas do Mundo de 1954, na Suíça, e em 1958, na Suécia, enquanto defendia o São Paulo.
Em 1960, o técnico do tricolor. Vicente Feola, já não confiava mais no seu futebol e ele então foi parar na Vila Belmiro, contratado por cinco milhões de cruzeiros – valor considerado elevado para a época, pois o craque tinha 29 anos e já era considerado veterano.
Sua estreia no Peixe aconteceu em um domingo, 27 de março de 1960, no Pacaembu, pelo Torneio Rio-São Paulo, em um empate de 2 a 2 com o Palmeiras. Nesse dia o técnico Luiz Alonso Perez, o Lula, escalou o time com Lalá, Getúlio, Mauro e Zé Carlos; Formiga e Zito; Dorval, Mario, Ney, Coutinho (depois Tite) e Pepe.
Ao lado do gaúcho Calvet, vindo do Grêmio, que fez sua primeira partida no Santos logo em seguida, Mauro formou uma dupla de zaga respeitada e de muito sucesso no futebol brasileiro.
Com a camisa branca e preta do time praiano Mauro jogou 352 partidas, ou 65% do total de 542 partidas disputadas pelo Santos entre os anos de 1960 e 1967.
Além de bicampeão da Libertadores e Mundial em 1962/63, ele é pentacampeão brasileiro, pois angariou o título nacional nos anos de 1961/62/63/64 e 1965 e foi também campeão paulista nos anos de 1960/61/62/64/65 e 1967.
Pelo Escrete Nacional, enquanto esteve no Santos, disputou 15 partidas e foi o capitão e bicampeão mundial pela Seleção Brasileira na Copa do Mundo no Chile, em 1962.
México, Santos e volta pra casa
Depois que saiu do Alvinegro Praiano jogou no Toluca, do México, entre 1967 e 1968. No México iniciou a carreira de treinador na equipe do Deportivo Oro.
Voltou ao Santos em 1971 para ser o técnico da equipe, em substituição a Antoninho, e dirigiu o time em 78 partidas, ficando como treinador até o ano seguinte. Com ele no comando o Santos venceu 39 partidas (50%),  empatando 24 e perdendo 15.
Deixou em definitivo o futebol após treinar o Club Jalisco, do México, entre fevereiro de 1973 e março de 1974.
Retornou à sua Poços de Caldas e passou a se dedicar ao comércio. Nessa cidade mineira, no início da avenida David Benedito Ottoni, uma estátua do “Capitão do Bi” lembra o ápice de sua carreira esportiva, quando ergueu a taça no Chile.
Em uma entrevista, para o livro Time dos Sonhos, falou sobre a experiência de jogar no melhor time de futebol de todos os tempos:
Jogar no Santos representou para mim o maior prêmio que um atleta poderia receber em sua carreira. Agradeço a Deus por ter jogado naquele time.
Mauro Ramos de Oliveira, o zagueiro ícone da zaga santista, faleceu em uma quarta-feira, 18 de setembro de 2002, aos 72 anos, em Poços de Caldas, vítima de câncer no estômago.

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