Pitico, um Menino da Vila, fez o gol 7000 do Santos

Centro de Memória
Em abril de 1970 o santista teve a impressão de que o reinado do Alvinegro Praiano se estenderia por mais mil anos. Com os craques Pelé, Clodoaldo, Carlos Alberto Torres, Joel Camargo e Edu na Seleção que se preparava para a Copa do México, o técnico Antoninho lançou vários garotos no time que enfrentou os outros grandes do Estado na Copa São Paulo.  O resultado foi que a garotada levantou a taça e o meia Pitico, de 20 anos, marcou o gol 7000 da história do clube que mais fez gols no planeta (12.626, por enquanto).
Era uma quarta-feira, 15 de abril, como hoje. No Parque Antártica, pelo segundo turno da Copa, jogavam São Paulo e Santos. No primeiro turno, na Vila Belmiro, o Santos vencera por 4 a 0, com dois gols de Manoel Maria, um de Picole e um de Djalma Duarte. Na capital, o São Paulo, treinado pelo experiente Zezé Moreira, pretendia dar o troco.
O Santos tinha uma defesa sólida e experiente e uma molecada atrevida no meio do campo e no ataque. O time daquele jogo entrou com Joel Mendes, Turcão, Ramos Delgado, Djalma Dias e Rildo; Léo Oliveira e Pitico; Manoel Maria, Picolé (depois Douglas), Djalma Duarte (Lima) e Abel.
Com muitos veteranos, o São Paulo apresentou Sérgio, Lima, Jurandir, Dias e Tenente; Carlos Alberto e Lourival; Miruca (depois Paulo Nani), Zé Roberto, Babá e Paraná. Quase 22 mil pessoas compareceram para ver o Sansão, arbitrado por José Faville Neto.
Equilibrado, com períodos de predomínio de lado a lado, o jogo prosseguia sem gols até os 31 minutos, quando o zagueiro Jurandir, reserva da Seleção na Copa de 1962, despachou a bola da área são-paulina e ela foi cair nos pés de Pitico, que a dominou e encheu o pé. O tiro saiu à meia altura e entrou no canto direito do zagueiro Sérgio.
Na época não se sabia, ainda, que esse gol de Pitico era o de número 7000 da história santista. Isso só pôde ser revelado após uma minuciosa recontagem de todos os gols do Alvinegro Praiano. Voltando ao jogo, Carlos Alberto empatou aos 19 minutos do segundo tempo e Léo Oliveira fez o gol da vitória santista a três minutos para o final.
Campeão do torneio com quatro vitórias, três empates e uma derrota, o Santos chegou ao título em um final empolgante, já que perdia por 1 a 0 para o Palmeiras e só foi empatar – com Manoel Maria empurrando para as redes um rebote do goleiro Neuri – aos 43 do segundo tempo.
Aquela conquista mostrou o que confiança e motivação podem fazer por um time de futebol, mesmo inexperiente. Sabendo-se parte de um clube que acredita nos jovens e parece predestinado a revelar jogadores acima da média, aqueles garotos jogaram com alegria e destemor, o que os fez superar equipes bem mais tarimbadas.
Porém, chegou o momento de os cinco tricampeões do mundo voltarem ao time e, obviamente, não havia lugar para todos os garotos no elenco santista. Pitico ainda estava no Santos quando este chegou às semifinais do Campeonato Brasileiro, em 1971, e no título paulista de 1973, mas depois foi trocado por Mazinho, do América de São José do Rio Preto.
Do América veio para a Portuguesa Santista e, em seguida, a convite de Pelé, foi jogar no Cosmos de Nova York. Ao voltar, defendeu o Saad de São Caetano; a Internacional de Limeira, onde ajudou a equipe a subir para a divisão principal do Campeonato Paulista, e acabou terminando a carreira no Bangu.
Nascido em Santos em 6 de março de 1949, Ronaldo Barsotti de Freitas, o Pitico, ao deixar os campos foi morar em Limeira, gastando as horas livres com partidas de futebol e tênis. Fruto de uma era de ouro do Santos e do futebol brasileiro, Pitico talvez não tenha tido todas as oportunidades que merecia. Mas ser o autor do gol 7000 do Santos ao menos gravou seu nome na melhor história do futebol mundial.

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