Memória: Dois gols de Pelé inspiram crônica do jornalista Nélson Rodrigues

No dia 16 de fevereiro de 1963, o Santos FC empatava em 2 a 2 com a equipe do Vasco da Gama, no Maracanã, em partida válida pelo Torneio Rio-São Paulo, com o Rei Pelé marcando os dois gols do Peixe que formou com: Gilmar; Dalmo, Mauro e Zé Carlos (Tite); Calvet e Lima; Dorval, Mengálvio, Pagão (Toninho), Pelé e Pepe. O técnico era Luiz Alonso Perez, o Lula. Os dois do Rei inspiraram o jornalista Nélson Rodrigues que escreveu no jornal “O Globo”:
“A multidão parou. E o tento solitário de Pelé veio como um toque sobrenatural numa peleja decidida. Mas o Vasco continuava na frente. O Santos fizera o seu “goal” de honra e só. Pois bem – e continua a batalha. O time do Santos arquejava como um asmático em último grau. Era preciso impedir que Pelé tocasse na bola. Nos últimos segundos , há uma chance do Santos, Toninho enche o pé e fura. Estava salvo o Vasco. Não, não estava salvo. Falhou Toninho, mas Pelé apareceu. Não estava lá, mas vejam vocês – desabrochou na hora e no momento certo. Enfiou a bola lá dentro e com que graça, sortilégio, beleza e “goal” perfeito. Irretocável como um soneto antigo. E aí está porque nós o consideramos o maior jogador do mundo. Amigos, não há Santos e insisto: Há Pelé. Dizia-me um colega, ontem no Maracanã: “O crioulo teve sorte”. Exato. Mas a sorte pertence aos Pelés, aos Napoleões. A história deu a Bonaparte, de mão beijada, uma Revolução Francesa. E é claro que as potências misteriosas do destino carregam Pelé no colo. Alguém diria que para os dois “goals” Pelé pouco ou nada fez, pelo contrário: quem enfia nos três minutos de uma partida dois “goals” já fez tudo. E mesmo que não jogasse nada, amigos, só os pernas de pau, os cabeças de bagre precisam jogar bem. Um Pelé pode sentar em campo para ler gibi. Com um leve toque, marcou um “goal”, com um segundo toque imponderável, empatou”.
Curiosidade:
Segundo relatou a revista “Placar” em edição de março de 1999, com o título “Um presente para a mãe do zagueiro”:
A Versão: O Vasco vencia o Santos, no Maracanã, por 2 a 0. Os zagueiros Brito e Fontana infernizavam Pelé, perguntando um para o outro: “Cadê o Rei? Hoje o Rei não veio? Ele, então, empatou o jogo, marcou dois gols nos últimos minutos, Depois, entregou a bola a Fontana e disse: “Toma, leva para tua mãe. Diz que foi o Rei que mandou”.
O Fato: “Naquele dia, o Fontana e o Brito me encheram demais. Toda vez que a bola saía e eu ia buscar, um deles chutava mais longe, aproveitando que, naquela época, não havia tantos gandulas, depois, falavam: “É crioulo, essa não dá mais…”. Só que quando faltavam três minutos para o jogo terminar, fiz um gol, descontando para 2 a 1. Faltando dois minutos, fiz outro. Aí peguei a bola, dei para o Fontana e disse: “Tá vendo isso aqui? Leva para a sua mãe de presente”. Mas eu não falei que “foi o Rei que mandou”.
Guilherme Guarche – Coordenador do Centro de Memória e Estatística

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