Há 58 anos Brasil era bimundial com sete santistas

Odir Cunha, do Centro de Memória
Vivia-se o auge do futebol arte e o Santos, melhor equipe do planeta, tinha sete jogadores no elenco da Seleção Brasileira que no domingo, 17 de junho de 1962, bateu a Tchecoslováquia por 3 a 1, no Estádio Nacional de Santiago, e se tornou bicampeão mundial. E olhe que poderiam ter sido oito ou nove santistas…
O líder Zito, autor do gol de desempate, era um dos três santistas em campo na grande decisão. Os outros eram o goleiro Gylmar e o zagueiro Mauro. Pelé, recebido no Chile com as honras de grande astro da Copa, havia se machucado contra os mesmos tchecos na fase de classificação. Coutinho e Pepe, inscritos como titulares, tinham se contundido antes dos jogos. E ainda havia Mengálvio e Calvet.
Mesmo sentindo uma distensão muscular logo no segundo jogo, Pelé havia feito uma estreia marcante contra o México, dando o passe para o primeiro gol brasileiro e depois partindo do meio de campo e driblando vários jogadores para fazer 2 a 0, em um dos gols mais bonitos de todos a Copas.
Ele, Coutinho e Pepe foram inscritos na Copa com os números 10, 9 e 11, pois eram os titulares da Seleção. Lesionados, acabaram substituídos por Amarildo, camisa 20; Vavá, 19, e Zagallo, 21.
Único dos santistas que foi ao Chile sem muita chance de jogar, o meio campo Mengálvio era reserva de Didi, o melhor armador do futebol brasileiro. Um outro jogador do Santos, porém, o quarto-zagueiro Calvet, ficou fora da Copa por um motivo fútil.
– Fui titular dos jogos mais complicados da fase de preparação, contra o Paraguai e o Chile, fora de casa, e contra Portugal, no Maracanã. Eu me entendia perfeitamente com o Mauro, meu companheiro no Santos. Na hora da convocação, levaram o Zózimo e o Jurandir. Eu quis saber por quê e a explicação que me deram é que já tinha muito santista na Seleção.
Essa foi a grande frustração do gaúcho Raul Donazar Calvet (1934-2008) que abandonaria a carreira dois anos depois, por rompimento parcial do tendão de Aquiles, e voltaria para a sua Bagé, onde se tornaria presidente do Guarani local. Para ele, o fato de toda a comissão técnica da Seleção ser do São Paulo Futebol Clube, incluindo o chefe da delegação, Paulo Machado de Carvalho, e o técnico Aymoré Moreira, fez com que o zagueiro Jurandir fosse colocado no seu lugar.

Para Coutinho (1943-2019), que seria titular em uma Copa do Mundo com apenas 18 anos, a decepção também foi muito grande, pois, segundo ele, “nunca houve uma Copa tão fácil de ganhar como aquela”.
Dos titulares do Santos, apenas Dalmo, Lima e Dorval não foram cogitados para defender o Brasil no Chile. O polivalente Lima seria o titular da Seleção Brasileira a partir de 1963, ano em que Dorval também faria oito jogos com a camisa canarinho.
Realizada no auge do predomínio santista, a Copa do Chile poderia ser vencida, naturalmente, com o time do Santos reforçado por dois ou três jogadores. As malditas contusões e algumas decisões políticas atrapalharam.
Quiseram os deuses do futebol, entretanto, que dois anos e meio depois, no início de 1965, no mesmo Estádio Nacional em que foi disputada a final da Copa, a Seleção da Tchecoslováquia, ainda com muitos jogadores vice-campeões mundiais, enfrentasse o Santos pelo Torneio Hexagonal do Chile.
Com todos os jogadores em forma, entre eles Pelé, que marcou dois golaços nessa partida, o Brasil, ou melhor, o Santos, venceu por 6 a 4 (três de Pelé, dois de Coutinho e um de Dorval), em um jogo considerado pela imprensa chilena como o mais espetacular já disputado no país.


 

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