Dalmo Gaspar, o herói desconhecido

Por Odir Cunha, do Centro de Memória
O zagueiro Maldini ergueu a perna direita para tirar a bola de sua área. Almir, que substituía Pelé, colocou a cabeça entre a bola e o pé do italiano. “Sabia que podia ficar cego, morrer, mas naquela hora eu precisava fazer isso”, disse o centroavante mais tarde. Enquanto Almir rolava pelo gramado, as quase 200 mil pessoas que tomavam o Maracanã uivaram de alegria quando o árbitro Juan Brozzi marcou o pênalti mais importante de um clube brasileiro. Pepe era o cobrador oficial do Santos, mas o batalhador lateral-esquerdo Dalmo, confiante, pegou a bola das mãos do ponta-esquerda e foi para a marca de cal.
“Nessas horas, quem está com mais confiança deve bater”, explicou Pepe anos mais tarde. E Dalmo, o único jogador daquele Santos que jamais foi convocado para a Seleção Brasileira, que tinha um salário menor do que os companheiros, pegou a bola e, aos 34 minutos do primeiro tempo, partiu para bater o pênalti que tornaria o Santos o primeiro bicampeão mundial da história.
Inventor da paradinha, depois imortalizada por Pelé, dessa vez Dalmo tomou pouca distância e, como se já tivesse decidido onde bater, e colocou a bola rasteira, rente à trave direita do gol de Ghezzi. Um gol muito parecido, aliás, com o Milésimo de Pelé, marcado seis anos depois, no mesmo Maracanã.
O Santos se tornou o primeiro bicampeão mundial, pelo pé direito de Dalmo, em 16 de novembro de 1963, mas não é essa data que este artigo vai priorizar, mas sim 19 de outubro, dia em que Dalmo Gaspar nasceu, em Jundiaí, onde começou no futebol no São Paulo, time amador da cidade.
Depois, como profissional, jogou no Paulista, no Guarani e no início de 1957 foi contratado pelo Santos, onde permaneceu até 1964, vivendo a fase mais vitoriosa de um time brasileiro. Mesmo sem ser alto (cerca de 1,74m), começou no Alvinegro Praiano como quarto-zagueiro, mas com a vinda de Formiga acabou deslocado para a lateral-esquerda, apesar de destro.
De um tempo em que os laterais se preocupavam mais com a defesa, Dalmo era um jogador seguro e constante, que dificilmente se machucava e não raro era o que mais vezes atuava pelo time durante a temporada. Em todo o seu período na Vila Belmiro disputou 369 jogos e marcou quatro gols. Saiu dos Santos aos 31 anos, mas não foi embora feliz. Gostaria de ter permanecido mais no time que amava.
Depois, jogou dois anos no Guarani e encerrou a carreira em 1967, no Paulista de Jundiaí, sua cidade. Iniciou-se, então, como técnico, treinando as equipes da Catanduvense, Santo André e Taubaté. Em seguida, foi comentarista esportivo da Rádio Cidade Jundiaí, cuja equipe era comandada por Milton leite, hoje no SporTV.
Após anos de uma vida tranquila, rodeado pela família e os amigos, começaram alguns sinais de saúde preocupantes. Internado com uma infecção no sangue, Dalmo Gaspar, o lateral que bateu o pênalti mais importante de um clube brasileiro, faleceu em Jundiaí em 2 de março de 2015, aos 82 anos.

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