Copa Kirin, com técnica e muita garra

Gabriel Santana, do Centro de Memória
Uma equipe sem muitos de seus campeões paulistas do ano anterior, o Santos que excursionou para Indonésia, Japão, Estados Unidos e México em meados de 1985 era um time impulsionado pela força de sua camisa. Só mesmo esse poder ancestral podia explicar as ótimas atuações da equipe na tradicional Copa Kirin, no Japão, finalmente conquistada em uma inusitada segunda-feira, 6 de junho, contra uma forte e catimbeira Seleção do Uruguai.
O torneio era um hexagonal, com três equipes – Santos, West Ham, da Inglaterra, e Yomiuri, do Japão – e três seleções nacionais: Malásia, Japão e Uruguai. Criada em 1978, em seus dez primeiros anos o torneio reunia clubes e seleções. A partir de 1991 passou a ser disputado exclusivamente por seleções nacionais.
A campanha, irresistível
O Santos estreou contra o West Ham, da Inglaterra, a quem venceu por 2 a 1, com gols de Mário Sérgio e Zé Sérgio ainda no primeiro tempo. Em seguida goleou a Seleção sub-23 da Malásia por 8 a 1, com três gols do atacante Mirandinha, atleta da Portuguesa de Desportos emprestado ao Alvinegro para a excursão. Lima com dois gols e Mario Sergio, Gersinho e Humberto, com um gol cada, completaram o marcador.
Na terceira partida, diante da Seleção do Uruguai, o Peixe encontrou seu adversário mais difícil até então. Equilibrado, o jogo terminou empatado em 1 a 1. David marcou o gol santista.
Em seguida, contra a Seleção do Japão, no estádio de Kobe, o Santos jogou fácil, não se abalou com a torcida contrária e venceu por 4 a 1, com dois gols de Zé Sérgio, um deles olímpico, e outros de Mirandinha e Gersinho. O time santista encerrou a fase classificatória enfrentando a equipe japonesa Yomiuri, e a goleou por 4 a 0. Mirandinha marcou dois e Gersinho e Davi marcaram um gol cada.
Com o término dessa primeira fase, disputada no sistema de pontos corridos, o Santos terminou na primeira colocação e a Seleção do Uruguai ficou em segundo lugar. Com isso, as duas equipes se qualificaram para a grande decisão.
A grande vitória sobre a Celeste
Na final, um fato inusitado: o uruguaio Rodolfo Rodriguez, goleiro do Santos e da Seleção Uruguaia, pela primeira vez enfrentou a Celeste Olímpica (os uruguaios chamam sua seleção assim porque antes do advento das Copas do Mundo, em 1930, eles venceram o futebol nos Jogos Olímpicos de 1924 e 1928).
Castilho, o mesmo técnico que dirigiu o Santos no título paulista de 1984, mandou a campo Rodolfo Rodriguez; Paulo Roberto, Davi (Fernando), Toninho Carlos e Jaime Bôni; Serginho Carioca, Mário Sérgio e Humberto (Formiga); Gersinho, Mirandinha e Zé Sérgio.
Esse Mário Sérgio não é o mesmo que defendeu o São Paulo e foi campeão mundial com o Grêmio. Seu nome é Mário Sérgio Rodrigues. Nasceu em Ourinhos, veio do Matsubara, do Paraná, e tinha 24 anos quando jogou a Copa Kirin.
Mirandinha, o artilheiro do Santos nessa Copa, com oito gols, era um centroavante baixo e muito veloz, de 25 anos, que impressionou bem nessa excursão, mas acabou não ficando no Santos. Dois anos depois, contratado pelo Newcastle, ele se tornaria o primeiro brasileiro a jogar no futebol inglês.
O Uruguai, escalado pelo técnico Omar Borrás, formou com Gualberto Velichco; Nestor Montelongo, José Luis Russo, Acevedo e César Pereira; Yeladin, Walter Barrios e Carrasco; Aguilera, Da Silva e Cabrera (Alzucaray). Aproximadamente 35 mil pessoas estavam presentes no Estádio Nacional de Tóquio, para ver a decisão, que também foi transmitida pela tevê.
Logo aos 14 minutos Aguilera abriu o marcador para os uruguaios. O Santos não se abateu e tomou as ações da partida. Em ótima jogada individual, Zé Sérgio empatou aos 22 minutos. Com o gol marcado o Peixe cresceu ainda mais no jogo e antes de encerrar a primeira etapa, aos 40 minutos, Mirandinha virou o marcador.
Aos cinco minutos do segundo tempo, o rapidíssimo Mirandinha partiu do campo do Santos, ganhou na corrida de um marcador, driblou o goleiro que saiu da grande área e tocou por cima de um uruguaio que corria, desesperado, para embaixo das traves. Um golaço.
Ao ver a partida sair do controle, os uruguaios começaram a apelar para a violência e pressionar o árbitro japonês Shizuo Takada. O jogo ficou tenso, catimbado, como é de se esperar contra os uruguaios. Mas eles não desistiram de buscar o empate. Aos 36 minutos, cobrando falta, Carrasco acertou um petardo de fora da área no ângulo direito de Rodolfo Rodriguez.
Os últimos minutos foram muito nervosos. O zagueiro Russo e Mirandinha trocaram socos, mas não foram expulsos. Logo após a confusão, jogadores reservas e torcedores invadiram o gramado e o tumulto continuou. Apenas Montelongo foi recebeu cartão vermelho.
Aos 44 minutos, em uma escapada pela esquerda, Zé Sérgio se aproximou da área como se estivesse esperando a colocação de um companheiro para dar o passe e surpreendeu ao soltar uma bomba no alto da meta de Gualberto. Outro belo gol, que decidiu a vitória e a taça.
Conquistada com técnica, inteligência e muita garra a vistosa Copa Kirin hoje está exposta no Memorial das Conquistas do Santos Futebol Clube.

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