Como o Santos se tornou o único pentacampeão brasileiro

Por Gabriel Santana, do Centro de Memória
Ganhar o Campeonato Brasileiro já é uma tarefa árdua para qualquer equipe. Agora, imagine conquistá-lo cinco vezes consecutivas. Na noite de quarta-feira, 8 de dezembro de 1965, o Santos realizou mais essa primazia, algo que nenhum outro clube conseguiu até os dias de hoje.
A Taça Brasil/ Campeonato Brasileiro de 1965 foi disputada por 22 times e realizada no formato eliminatório. Eram 21 campeões estaduais mais o Palmeiras, vice-campeão paulista, que entrou na disputa porque o campeão estadual, o Santos, já tinha vaga assegurada pelo título brasileiro do ano anterior.
Os representantes paulista e carioca entravam na fase decisiva, repetindo o mesmo sistema que havia no Campeonato Brasileiro de Seleções, anterior à Taça Brasil, e que durante anos predominou no Mundial Interclubes da Fifa, em que os campeões da Europa e da América do Sul já entravam nas semifinais.
O adversário do Santos na semifinal da Taça Brasil foi o Palmeiras, que veio de uma disputa equilibrada com o Grêmio nas quartas. O alviverde ganhou por 4 a 1 em São Paulo, foi goleado por 5 a 1 em Porto Alegre e venceu a partida decisiva, no Pacaembu, por 2 a 0.
Santos e Palmeiras se enfrentaram em jogos de ida e volta, mas, curiosamente, ambos no Pacaembu, próximo à sede do time da capital. Na primeira partida, Ademar Pantera marcou logo aos 3 minutos e fez vibrar a maioria dos mais de 30 mil torcedores presentes. Mas aos 15 minutos o Santos já tinha virado, com gols de Toninho e Abel. No final, o Alvinegro triunfou por 4 a 2, com três gols de Toninho Guerreiro e um de Abel.
No segundo duelo, Pelé marcou no primeiro tempo, Ademar Pantera empatou no segundo e o resultado colocou o Santos em sua sexta final da Taça Brasil, a quinta consecutiva. O adversário do Santos na decisão foi o Vasco da Gama, que nas semifinais havia passado pelo Náutico com um empate de 2 a 2, no Recife, e uma vitória por 1 a 0 no Maracanã.
A primeira partida da finalíssima ocorreu no Pacaembu, e o Alvinegro não tomou conhecimento da equipe carioca. Com uma grande atuação e lindos gols, o Santos venceu por 5 a 1, com dois gols de Dorval, dois de Toninho Guerreiro e um de Coutinho.
O resultado dava ao Santos a vantagem de jogar pelo empate no Maracanã. Na época não havia o critério de saldo de gols. Uma vitória do Vasco, mesmo pela diferença de um gol, já provocaria um terceiro jogo.
Mais um título no Maracanã
Cansados de ver o Santos fazer a festa no Maracanã, os vascaínos estavam dispostos a complicar as coisas. Antes de se iniciar a partida que decidiria o campeão brasileiro de 1965, já houve a primeira confusão. As duas equipes entraram em campo com camisas brancas. O Vasco alegou que na primeira partida já havia jogado com seu segundo uniforme, e agora seria justo usar sua tradicional camisa branca com a faixa preta. Após mais de 30 minutos de discussão, o Alvinegro decidiu vestir camisas listradas.
O técnico Luiz Alonso Peres, o Lula, mandou a campo Gylmar, Carlos Alberto, Mauro, Orlando e Geraldino; Lima e Mengálvio; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe (Abel). O Vasco foi escalado pelo técnico Zezé Moreira com Gainete, Joel, Caxias, Ananias e Oldair; Maranhão e Danilo; Mário, Nivaldo (Luizinho), Célio e Zezinho. Para árbitro foi escolhido o carioca Armando Marques, então com 35 anos, considerado o melhor do País na época.
O Vasco necessitava da vitória e iniciou a partida com a equipe bem postada defensivamente, e saindo para atacar com qualidade. O time carioca não podia errar, pois qualquer erro diante da legião de craques do Peixe seria fatal.
Durante todo o primeiro tempo o Vasco passou ileso e, mesmo criando um pouco mais de oportunidades, não abriu o marcador. No segundo tempo o time santista aumentou o ritmo e conseguiu marcar seu primeiro gol aos 20 minutos, após uma investida pela direita. Sem ângulo, Pelé driblou para dentro e, de perna esquerda, chutou cruzado, sem chance para o goleiro Gainete.
Quinze minutos depois, Zezinho e Lima se estranharam e ambos foram expulsos por Armando Marques, o que provocou uma confusão generalizada. Pelé e Geraldino acabaram expulsos pelo lado santista, e Ananias pelo time carioca.
Nos últimos minutos de jogo, Orlando Peçanha e Luisinho também foram expulsos. O Santos terminou a partida com sete jogadores e o Vasco com oito. Apesar do clima hostil, o Alvinegro Praiano segurou a vantagem até o final e pôde comemorar o único pentacampeonato brasileiro consecutivo da história, diante de 38.788 pagantes e ao vivo pela tevê. Foi a terceira comemoração de título brasileiro do Peixe no Maracanã em apenas quatro anos.

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