Calvet, um gaúcho bom de bola

Por Guilherme Guarche, do Centro de Memória

Quando vestiu pela primeira vez a camisa do Santos, em 18 de fevereiro de 1960, uma quinta-feira, o gaúcho Raul Donazar Calvet, tinha 25 anos de idade, já era um jogador tarimbado e de renome na região do Sul do Brasil. Na sua estreia, o Alvinegro empatou por 3 a 3 diante do Sporting Crystal, no Estádio Nacional de Lima, no Peru.
Calvet foi contratado junto ao Grêmio Porto-Alegrense, time que jogou entre 1956 a 1959. Sua contratação pedida pelo técnico Luiz Alonso Perez, o Lula, tinha como objetivo fortalecer a defesa do time santista formada por Urubatão e Formiga.
O gaúcho era um jogador clássico de muita elegância no trato com a bola. Foi revelado aos 16 anos, em 1951, no Guarany de Bagé, cidade natal dos Pampas do Rio Grande do Sul. Calvet nasceu em 3 de novembro de 1934, por coincidência no mesmo dia em que o conterrâneo, Getúlio Vargas, tomava posse na chefia do Governo Provisório do Brasil.
Em 24 de março de 1957, três anos antes de vir para a Vila Belmiro, Calvet já tinha jogado contra sua futura equipe em um amistoso do Combinado Guarany FC/GE Bagé em Bagé. O detalhe é que a partida terminou empatada em 1 a 1, com gols de Pelé para o Santos e do próprio Calvet para os gaúchos.
Calvet, logo após seu passe ter sido adquirido pelo Peixe, foi multado pela Federação Gaúcha de Futebol por ter faltado aos preparativos para a partida contra o Farroupilha de Pelotas. Nesse período, ele era o titular da Seleção Brasileira que participaria dos jogos Pan-americanos.
Jogador inteligente, eficiente nos desarmes, sua qualidade para distribuir o jogo era um diferencial e tanto, o que despertava nos treinadores a necessidade de contar com seu futebol também na composição de meio-campista se fosse preciso.
Com a chegada do zagueiro Mauro Ramos de Oliveira ao Santos, eles formaram uma dupla de zaga praticamente imbatível na retaguarda santista e, ao lado de Gylmar, Dalmo, Lima e do médio-volante Zito, tornaram a defesa do time praiano conhecida e respeitada mundialmente.
Calvet foi injustiçado por não ter sido convocado para disputar a Copa do Mundo de 1962, no Chile, sendo preterido pelo técnico Aymoré Moreira, que alegava que no elenco já tinha muito jogadores do Santos.
Por estar contundido não disputou as duas partidas finais do Mundial Interclubes diante do Milan e que deram ao clube o título de Bicampeão Mundial. Seu companheiro na defesa santista, Lima, disse que o zagueiro de 1,80 metro e 78 quilos era quem fazia o trabalho “sujo” na defesa do Peixe:
“Não que Calvet não tivesse categoria, ao contrário, estava bem acima da média entre os zagueiros, mas como veio do Sul, onde o futebol era mais viril, tinha outras maneiras de parar o ataque adversário. Uma delas era fazer uma barreira ao atacante que estava sem a bola. Como naquela época os árbitros só olhavam a bola, a falta não era marcada na maioria das vezes.”
Para sua vaga na defesa, depois que ele deixou a Vila Belmiro, passaram a se revezar os jogadores Haroldo, Joel Camargo e Orlando Peçanha.s vezes.
O craque jogou pelo Peixe no período de 1960 a 1964. Foram 218 partidas e apenas um gol marcado gol no dia 12 de fevereiro de 1961, no empate por 2 a 2 diante da equipe do Oro Jalisco, na cidade do México. Devido a um rompimento parcial do tendão de Aquiles teve que abandonar as quatro linhas aos 30 anos de idade em 1964, voltando a morar em sua Bagé “A Rainha da Fronteira” onde se tornou dono de empresas de material de construção.
Calvet ainda se tornou presidente do clube que o revelou para o futebol. Chegou a trabalhar como “olheiro” do Santos, no Rio Grande do Sul. No ano de 1978 indicou ao clube o goleiro Flávio que foi Campeão Paulista pelo Alvinegro em 1978.
Pelo Santos conquistou os seguintes títulos: Campeão Mundial (1962/1963), Campeão Sul-Americano (1962/1963), Campeão Brasileiro (1961/1962), Campeão Paulista (1960/1961/1962), Campeão Torneio Rio-São Paulo (1963), Torneio Internacional de Paris – França (1960), Torneio Internacional Pentagonal de Guadalajara – México (1960) e Torneio Internacional Troféu Giallorosso – Itália (1960).
A revista argentina El Gráfico realizou, no início da década de 1980, uma pesquisa mundial que escolheu o Santos de Pelé e Calvet como o melhor time de futebol de todos os tempos.
O escritor José Roberto Torero escreveu: “A escalação daquele time era quase música: Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe (…). Uma constelação de anjos, que pareciam voar para lá e para cá, cruzando o campo de toas as formas possíveis”.
No dia 29 de março de 2008, Calvet faleceu devido a um câncer no esôfago, no hospital Santa Rita em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul onde foi cremado. Aos 73 anos, deixou as filhas Sônia e Gislaine e a irmã Alda e os irmãos Luiz Vicente e Carlos Calvet que jogou profissionalmente no Botafogo carioca.

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