A primeira conquista internacional do Santos

[:pb]Por Gabriel Pierin, do Centro de Memória

Santos e Newell’s decidiram o título do Torneio Roberto Gomes Pedrosa em partida única, no Pacaembu, na noite do dia 29 de março de 1956, uma quinta-feira. A goleada por 5 a 2 contra o time argentino garantiu a primeira conquista internacional do time de Vila Belmiro.

Em março de 1956 o Santos ainda não contava com seu maior ídolo, Pelé. Contudo, já dava mostras de que estava entre as grandes equipes do Brasil e do continente. Naquele início de ano, o Peixe levantara a taça de Campeão Paulista de 1955 e foi um dos cinco clubes do Estado que disputariam, ao lado do uruguaio Nacional e dos argentinos Boca Juniors e Newell’s Old Boys, a fase internacional do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, nome oficial do Rio-São Paulo.

Os clubes cariocas tentaram adiar a competição para o segundo semestre do ano, alegando que seriam prejudicados com as convocações da Seleção Brasileira que disputaria o Campeonato Sul-Americano no mesmo período. Os paulistas se recusaram, justificando que a competição já fazia parte do calendário nacional e um adiamento comprometeria a receita dos clubes. A Confederação Brasileira de Desportos intercedeu a favor dos paulistas e os cariocas retiraram-se da competição. O Torneio Roberto Gomes Pedrosa desse ano foi disputado apenas por paulistas e considerado sem efeito como um Torneio Rio-São Paulo.

Na fase internacional, pelo regulamento, as equipes brasileiras Santos, Palmeiras, Corinthians, São Paulo e Portuguesa enfrentariam apenas as estrangeiras, e a brasileira e a estrangeira mais bem classificadas disputariam a final.

A Vila Belmiro foi o palco dos três jogos classificatórios do Santos. Em um sábado, 10 de março, o Alvinegro Praiano venceu o Newell’s Boys por 4 a 2, sem sustos. Vasconcelos foi o melhor em campo e autor de um gol. Pepe marcou duas vezes e Negri mais uma.

Na segunda partida, dia 19, o Santos enfrentou o Boca Juniors. Era a estreia do veterano Jair Rosa Pinto. A chuva castigou o campo e os argentinos, melhores, abriram uma vantagem de 2 a 0. No segundo tempo, quando a chuva parou e o gramado secou, o Alvinegro virou para 3 a 2, com gols de Pepe, Vasconcelos e Pagão. Faltava enfrentar o Nacional, tão credenciado que seria tricampeão uruguaio em 1955/56/57. Mas aí surgiu uma malandragem nos bastidores que favorecia o Corinthians.

Até ali os dois alvinegros estavam empatados em pontos ganhos, com apenas um gol de vantagem para o Santos. Mas ambos ainda tinham uma partida a fazer. O inaceitável é que, enquanto o Alvinegro Praiano enfrentaria o Nacional no dia 22 de março, o da capital só jogaria contra o Boca Juniors no dia 27, portanto já sabendo de quanto precisaria vencer para superar o saldo santista.

Porém, confiante, o Santos foi para o jogo. Nem mesmo o reforço dos campeões sul-americanos Leopardi e Ambrois, da Seleção Uruguaia, fez o Nacional segurar o ímpeto santista. Depois de um primeiro tempo disputado, em que o Santos conseguiu apenas a vantagem mínima, com um gol contra de Leopardi, na segunda etapa a porteira abriu de vez: Pagão, aos seis e aos 24 minutos; Alfredinho e Urubatão completaram os, quem diria, 5 a 0 sobre o campeão uruguaio!

O Corinthians venceu o Boca por 4 a 1, mas, com três gols de saldo a menos que o Santos, ficou fora da decisão. Dos estrangeiros, o melhor foi o Newell’s Old Boys, e assim Santos e Newell’s decidiram o título em partida única, no Pacaembu, na noite do dia 29 de março, uma quinta-feira.

O técnico Lula escalou o Peixe com Manga, Hélvio (depois Cássio) e Feijó; Ramiro, Zito e Urubatão; Alfredinho (Sarno), Jair Rosa Pinto, Pagão (Del Vecchio), Vasconcelos e Pepe. O treinador José Ramos optou por Masueli, Griffa e Coronel; Mastrogiuseppe (depois Bovery), Sanguinetti e Etchevarria; Nardiello, Picot, Rocha (Hernandez), Reinozo (Carranza) e Urquiza (Donelutti). O britânico Harry Davis foi o árbitro.

O Santos era o Brasil e muitos paulistanos foram ao Pacaembu torcer para o time das praias. Pela primeira vez a imprensa esportiva paulistana parecia se curvar a uma equipe superior aos grandes da capital. Mesmo o populista tabloide Mundo Esportivo, em sua apresentação da final, se rendeu ao belo futebol e parecia antever a formação de uma equipe vitoriosa e os anos de ouro do Santos.

Todas as previsões se confirmaram. Bastante ofensivo, o Santos definiu o jogo e o título em um intervalo de 10 minutos: aos 29 Pagão abriu o marcador, aos 35 Pepe ampliou e aos 39 Vasconcelos fez o terceiro. No início do segundo tempo, Pagão, de pênalti, fez o quarto. O Newell’s diminuiu com Picot e depois Hernandez, mas Del Vecchio, que entrara no lugar de Pagão, marcou o quinto aos 36 minutos, definindo a vitória santista por 5 a 2 e o título do torneio.

A façanha fez a imprensa olhar o Santos de outra forma. Não se tratava apenas de mais um fenômeno regional. O Mundo Esportivo chegou a definir o time como “uma verdadeira academia de futebol”. Ofensivo, técnico, com muitos jogadores de alta qualidade, o Santos representava um alento para o combalido futebol brasileiro que dera vexames tanto na Copa do Mundo de 1954, como no Sul-americano de 1956.

Os números do time no seu primeiro título internacional mostraram isso: em quatro jogos, o Santos marcou 17 gols, média de 4,25 gols por jogo. O centroavante Pagão foi o artilheiro, com cinco gols, seguido por Pepe, com quatro, e Vasconcelos, com três.

Troféu em lugar de destaque

O Memorial das Conquistas de Vila Belmiro expõe na sua galeria o troféu do primeiro título internacional da história do Santos. Resgatado, identificado e restaurado, a Deusa Alada, como ele ficou conhecido, ocupa, desde então, lugar de destaque no vasto acervo de conquistas do clube.[:]

Pular para o conteúdo