Santos vence o Ypiranga no primeiro jogo na Vila

Por Guilherme Guarche, do Centro de Memória
O primeiro gol marcado na praça de esportes do Santos FC foi de autoria de um dos fundadores do clube, o jovem Adolpho Millon Jr., um atacante polêmico, que naquela época era sempre chamado para defender a Seleção Brasileira. Aos 21 anos esse endiabrado ponta-direita entraria em definitivo para a história santista ao assinalar esse gol pioneiro, o de número 170 do time santista, na partida de número 48 disputada pelo clube que naquele dia 22 de outubro de 1916 apresentou aos seus sócios e torcedores o seu estádio recém-inaugurado no bairro de Vila Belmiro.
Em um domingo de um outono de muitas chuvas na cidade, as arquibancadas de madeira receberam cerca de duas mil pessoas. Presidido por Agnello Cícero de Oliveira e com apenas quatro anos de fundação, O Santos já exibia, orgulhosamente, a sua nova casa.
Em campo, o time não decepcionou e venceu a forte equipe do Clube Atlético Ypiranga, da capital, por 2 a 1. Depois de Millon, o meia-esquerda Jarbas também marcou para o Santos, enquanto o atacante Formiga fez o único gol dos visitantes.
Essa partida foi a de número 27 do Campeonato Paulista promovido pela APEA – Associação Paulista de Sports Athleticos – que começou às 15h30, logo após a partida entre os segundos quadros, que teve a vitória do “Vovô da Colina Histórica” por 4 a 2.
O Santos, que era dirigido por Urbano Caldeira formou com Odorico, Américo e Arantes; Pereira, Oscar e Junqueira; Millon, Marba, Tedesco, Jarbas e Arnaldo. O Ypiranga jogou com Dionísio, Dario e Ferreira; Loschiavo, Jacinto e Peres II; Hugo, Ary, Bororó, Peres e Formiga.

Adolpho Millon Jr.

Um detalhe importante a ser destacado nesse jogo pioneiro é que o mesmo foi disputado em um campo sem grama, já que devido às chuvas intensas que ocorreram no início daquele mês de outubro não foi possível o plantio do gramado e a partida foi disputada no terreno enlameado. No dia seguinte, o jornal local A Tribuna destacou assim o encontro:
“Foi surpreendente, bella, enthusiastica e extraordinaria a pugna travada entre o valente campeão santista e o valoroso Ypiranga da capital. Antes da hora indicada para o encontro dos seguidos teams, ja a vasta praça de esportes do Santos começava a receber a fina flor da nossa sociedade e innumeros admiradores destas emocionantes lutas. Era bello, simplesmente bello, o aspecto que a vasta archibancada offerecia aos olhos do espectador. Grupos de senhoritas, trajando finas e elegantes “toilettes”, imprimiam aquuelle local, com a sua alegria juvenil e um tanto nervosa, um encanto, uma belleza, um verdadeiro mimo. O “bar” optimamente installado e sob a direção de pessoal habilitado, cumpriu a missão de que estava encarregado com toda a paciencia. Momentos antes de iniciar o encontro dos segundos teams, a symphatica corporação musical “Humanitaria” tomou logar no elegante coreto e executou uma marcha vibrante, cujas notas despertaram na assistencia, calculada em 2000 pessoas, extraordinario enthusiasmo. Foi um momento pleno de ansiedade e commoção. As gentis “torcedoras” deixavam transparecer bem claramente em seus bellos rostos a commoção que lhes ia na alma. A noite, em bondes especiaes offerecidos pela brava rapaziada do Santos, pelo seu enthusiastico consocio sr. Leite “Coalhada” foi feita uma passeata pelas ruas da cidade, entoando os seus hymnos sportivos. Ao passar por esta folha a alegre mocidade sportiva trouxe-nos a manifestação da sua alegria que agradecemos penhorados”.
Desde esse primeiro e longínquo jogo no Alçapão da Vila Belmiro até hoje, o Peixe disputou exatas 2273 partidas em seu estádio, tendo vencido 1455, empatado 445 e perdido 373, marcando 5706 sofrendo 2665 gols.
Quem mais vezes estufou as redes do estádio Urbano Caldeira foi o eterno Rei Pelé, que marcou 288 gols, seguido por Feitiço, com 162; Pepe, 152; Araken Patusca, 133, e Camarão e Coutinho, empatados com 106 gols.
Os santistas que mais vezes jogaram no estádio praiano foram: Zito, com 218 partidas; Léo e Pelé, 210; Antoninho, 203; Pepe, 201 e Camarão, com 185. O Urbano Caldeira, que completa 103 anos, é o estádio mais antigo do Brasil em atividade.

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