Rodolfo Rodríguez, o goleiro maior que o gol

Por Gabriel Santana, do Centro de Memória
Durante boa parte de sua infância Rodolfo Rodríguez não tinha a pretensão de se tornar goleiro. Ajudava seu pai no trabalho e queria se formar em Economia para melhorar a vida da família. Mas a vocação falou mais alto e aos 15 anos o jovem nascido em Montevidéu, em 20 de janeiro de 1956, já estava defendendo a meta dos juvenis do Club Atlético Cerro.
Sua grande referência de goleiro era o brasileiro Manga, titular do Nacional, também de Montevidéu. Em 1976, um ano depois de ser campeão sul-americano sub-20 pela Seleção Uruguaia, Rodolfo foi contratado justamente pelo Nacional, que ainda procurava um substituto à altura de Manga, que deixara o clube em 1974.
Demorou apenas um ano para o alto e atlético Rodolfo, de 21 anos e 1,87m, conquistar seu primeiro título pelo Nacional, o de campeão uruguaio de 1977. Três anos depois se consagraria como um dos grandes ídolos da história do Nacional, ao conquistar mais uma vez o título uruguaio, a Taça Libertadores da América, diante do Internacional do craque Falcão, e o Mundial Interclubes, batendo o inglês Nottingham Forest, de Brian Clough.
Na meta da Seleção do Uruguai conquistou o Mundialito em 1981 e a Copa América em 1983. Seu último título em solo uruguaio foi mais um campeonato nacional, em 1983. No início de 1984, em busca de um goleiro de prestígio e experiência, o Santos foi contratá-lo para substituir Marolla.
O Nacional dificultou a negociação, solicitando um valor fora do alcance dos cofres santistas. Ciente da situação, o Rei Pelé emprestou 120 mil dólares para que o clube contratasse o grande arqueiro. Na Vila, com extrema autoridade, em poucos meses Rodolfo Rodriguez caiu nas graças da torcida e se tornou um ídolo.
Ao lado de Serginho Chulapa, Rodolfo foi um dos grandes responsáveis pela conquista do título Paulista de 1984. Em uma das partidas do certame, diante do América de São José do Rio Preto, em 14 de julho, sábado, na Vila Belmiro, usou toda sua elasticidade, reflexo e coragem para praticar a mais incrível série de defesas já vista.
Foram três defesas à queima-roupa que até hoje estão presentes na memória do torcedor santista (muitos contam cinco defesas, mas em dois lances a bola bateu no pé da trave). O Santos venceu por 2 a 0, com dois gols de Serginho Chulapa, e ao final da partida o jogador Tarcísio, do América, declarou que “Rodolfo era maior que o gol”.
No primeiro dia de 2020 o ex-goleiro santista Rafael, campeão da Taça Libertadores de 2011, repetiu a façanha de Rodolfo Rodríguez em um jogo do seu time atual, o Reading, da Inglaterra, contra o Fulham, no campo do adversário. Na jogada, Rafael também fez três defesas à queima-roupa e o primeiro fato a ser lembrado pela mídia esportiva internacional foi a sequência de defesas de Rodolfo contra o América, 35 anos atrás. O Reading acabou vencendo por 2 a 1.
Em 1985 Rodolfo viveu um fato inusitado. Viajou para o Japão com a equipe santista para a disputa da Copa Kirin, um tradicional torneio amistoso disputado na Ásia. A competição reunia clubes e seleções, e entre as seleções convidadas estava a do Uruguai. O Alvinegro enfrentou duas vezes os uruguaios. Na primeira, o jogo terminou empatado em 1 a 1, e na grande final o Santos venceu por 4 a 2, dando a Rodolfo Rodríguez a estranha sensação de conquistar um título contra a seleção de seu país.
No ano seguinte, foi convocado para a disputa do Copa do Mundo de 1986, no México, mas não atuou em nenhum dos quatro jogos disputados pela Seleção Uruguaia, que acabou eliminada pela Argentina nas oitavas de finais.
Permaneceu na Vila Belmiro até o final de 1988, quando acertou sua transferência para o Sporting, de Portugal. Jogou ainda pela Portuguesa de Desportos em 1991 e 1992 e encerrou a carreira no Bahia, em 1994.
Primeira Defesa de Placa!
Em 18 de julho de 2010 a diretoria santista entregou uma placa para Rodolfo Rodriguez, em homenagem pela inesquecível sequência de defesas na partida contra o América, em 1984. Ele se tornou o primeiro e único goleiro na história a receber uma placa comemorativa por uma defesa.
Com a camisa do Peixe Rodolfo atuou em 255 jogos e é sétimo goleiro que mais jogou pelo Santos. Poucos atletas se identificam tanto com o Santos como ele. Ao lado de Serginho Chulapa, Rodolfo Rodríguez foi o grande ídolo da torcida da década de 1980 e até hoje mantém os laços vivos com o time de Vila Belmiro.

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