Como se soletra a palavra líder? Assim: Z I T O!

Por Gabriel Santana, do Centro de Memória
Na língua portuguesa, liderar é sinônimo de influência, comando ou ter controle sobre alguma situação. No Santos, liderar é sinônimo de José Ely Miranda, o Zito.
Treinador da equipe dentro de campo, ele também era o porta-voz dos jogadores junto à diretoria e, numa época sem empresários, chegava até a negociar a renovação de contrato de seus companheiros.
Nascido em Roseira, Interior de São Paulo, em 8 de agosto de 1932, Zito iniciou sua carreira no EC Taubaté, conhecido como “Burro da Central”. Após boas apresentações, foi contratado pelo Santos aos 19 anos, em 1952.
Em 29 de junho do mesmo ano vestiu pela primeira vez o manto santista, em um amistoso no Estádio Urbano Caldeira, contra o Madureira, que o Santos venceu por 3 a 1, com dois gols de Hugo e outro de Tite.
O seu primeiro título com a camisa alvinegra foi o Paulista de 1955, três anos depois de sua chegada à Vila Belmiro. A essa altura já era respeitado como um líder e um dos grandes jogadores daquela dinastia que estava se formando.
Aos poucos tornou-se um dos nomes mais importantes e imprescindíveis da era mais vencedora de um clube no futebol brasileiro, conquistando títulos estaduais, nacionais, continentais e mundiais. Sempre muito elogiado pela crítica, era um exemplo para outros atletas.
Nas suas broncas, ele não aliviava nem mesmo para Pelé. Caso julgasse preciso, também chamava a atenção do eterno Rei do Futebol.
Jogador completo, Zito era dotado de extrema capacidade técnica. Concedia passes e lançamentos precisos para seus companheiros. Na função de volante, estava avançado no tempo. Além de ser um especialista em desarme e um marcador implacável, quando necessário se tornava um sexto atacante.
Aos berros, a virada
Em excursão realizada pelo time santista à Europa, em 1967, Zito realizou algo que só grandes líderes poderiam fazer. O Peixe estava perdendo por 4 a 1 para o SV 1860 München no estádio Grunwald, em Munique, e ele, adoentado, acompanhava o jogo da arquibancada.
No intervalo do jogo, inconformado com o desempenho da equipe, foi ao vestiário e se apresentou ao técnico Antoninho, afirmando que queria entrar na partida. Com extrema autoridade, organizou e motivou a equipe apenas no grito. Sua voz firme ecoava em campo. O resultado dessa incrível liderança não poderia ter sido outro, a não ser a virada santista para a 5 a 4.
Referência na Seleção
Convocado para três Copas do Mundo, Zito teve fundamental importância nos dois primeiros títulos mundiais do Brasil. Realizou quatro jogos na Copa do Mundo da Suécia, em 1958, e seis jogos na Copa do Mundo do Chile, em 1962. Na grande final de 1962, contra a Seleção da Tchecoslováquia, marcou, de cabeça, o seu único gol em Copas, e justo o gol da virada. Sentiu a possibilidade de ir à frente, pediu aos berros o passe de Amarildo e cumprimentou a bola quase rente à trave, praticamente decidindo a partida que terminou 3 a 1 para o Brasil.
Convocado também para o Mundial de 1966, não chegou a atuar em nenhuma partida. Além de machucado, já estava quase chegando aos 34 anos. De qualquer forma, deixou seu nome na Seleção Brasileira. Estreou com a amarelinha em 1955 e se manteve com ela por 11 anos. Ao todo, foram 50 jogos e três gols pela Seleção.
Exemplo de amor à camisa
O grande líder vestiu o uniforme do Santos por 15 anos interruptamente, aposentando-se no em 1967. Conquistou 22 títulos oficiais, sem contar os inúmeros torneios amistosos.
Entrou em campo defendendo as cores do time santista em 733 oportunidades, tornando-se o terceiro jogador que mais atuou pelo Alvinegro, atrás apenas de Pelé e Pepe. É o volante que mais marcou gols pelo Peixe, com 58 tentos assinalados.
Após pendurar as chuteiras, Zito continuou morando em Santos e atuou diversas vezes como dirigente do time santista. Como diretor das divisões de base, foi um dos responsáveis pelo surgimento de Robinho e Neymar.
Poucos jogadores representam tanto para uma instituição como Zito para o Santos. Por isso, a faixa de capitão do time tem um Z, de liderança!
O grande gerente santista faleceu em um domingo à noite, 14 de junho de 2015, na cidade de Santos, a que adotou para morar e constituir família. Viveu 82 anos.

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